"O Fado da Mãezinha", tal como amigavelmente tantos dos meus pobres ouvintes de noites de copos, fados e guitarradas o titularam, tem sido um exlibris do meu fraco e lamentável reportório...
Nota literária:
Esta última frase é um exemplo do que em literatura se designa por um pleonasmo vicioso... ou seja, ao referir-me a "meu reportório" seria mais que suficiente para que se tornasse desnecessário de o adjectivar de "fraco e lamentável"...
Fim de nota
Este faduncho entrou na minha vida quando eu tinha os meus 5 ou 6 anitos através de uma pequena cassete branca de fados que os meus pais tinham em casa e que eu ouvia num pequeno rádio cinzento da Normende do meu pai. Como a nossa única fonte de música nessa altura era a rádio que passava a música que eles queriam e não a queríamos ouvir e que mais interactivo que podíamos ter era o "Quando o Telefone toca!", a capacidade de ter uma cassete que tocava a música que eu queria, quando eu queria, era um clímax (ainda que não soubesse o que isso era, sabia bem...). E mesmo que a cassete fosse de fados, era um momento mágico para mim... (agora imaginem se fosse do José Cid ou do Paco Bandeira... ui,ui...)
Mas adiante...
Apesar de felizmente o meu lar ser abençoado e de não haver cenas de pancadaria entre os meus pais, gostei sempre muito deste fado pois era cantado com uma mágoa e com uma dor que até uma criança de 5 ou 6 anos achava que aquilo tinha ali qualquer coisa de mágico.
Os anos foram passando, a cassete branca desapareceu por entre as restantes cassetes do meu ZX Spectrum e apenas ficou a memória. A memória da letra e da música. E quando comecei a tocar guitarra com os meus 16 anos, nunca me passou pela cabeça tentar aprender "o fado da Mãezinha", mas os anos passam e com alguma (pouca...) técnica, acabei por me lembrar da melodia e da letra do fado e comecei a tocá-la e a cantá-la em reuniões de amigos e familia.
O momento supremo acabou por se dar quando, numa passagem de ano, uma amiga se desfaleceu em lágrimas enquanto cantava o fadinho... ainda hoje não sei ainda se tal se ficou a dever ao tom triste e melancólico da melodia juntamente com uma letra forte e marcante, acumulado pelo facto de eu a interpretar com uma alma de fadista... ou se, por outro lado, se ficou a dever a quantidades difíceis de mensurar de alcool que ela bebeu antes...
(curioso que penso nisto... lembro-me que alguem se vomitou todo nessa noite, mas não me lembro quem foi...)
Bem, mas hoje foi então o dia que acabei por deitar por terra muitos dos meus mitos de infância e resolvi fazer uma pesquisa profunda sobre o faduncho quando tenho mais um desapontamento na vida:
"O fado da mãezinha" afinal é o fado do "Paizinho"!!
Mas pronto, afinal este é mesmo só um promenor sem importância nenhuma... e com o casamento gay, este faduncho deve acompanhar os tempos e pronto... O pai a bater na mãe é uma coisa do século passado... agora o que está a dar é o pai a bater no outro pai que Às vezes faz de mãe... ou vice-versa... (seja lá "vice-versa" o que quer que seja numa relação gay...)
Deixo-vos a letra do fado (gentilmente copiada do blog fadosdofado.blospot.com ). Parece lamechas mas vou tentar encontrar a música e postar aqui no blog na barra lateral ou algo que o valha...
Abraços Moinantes
Paizinho
*Noite desditosa*
António Fonseca / Casimiro Ramos *fado freira*
Reportório de Manuel Dias
Certa noite desditosa
No meu lar abençoado
Esta cena se passou;
Zanguei-me com minha esposa
E no momento irado
Bati-lhe, e ela chorou
Nesse momento, e por fim
Depois de tudo acabar / Entre lágrimas e ais
Alguém se abraçou a mim
E me pediu, a chorar / Paizinho não batas mais
Tive tanta piedade
Quando o ouvi dizer também / Olha que se ouve na rua
Paizinho, por caridade
Não batas na minha mãe / Tem pena, recorda a tua
Minha mãe, tanto me encanta
Foi ela que me criou / Diz chorando, a criancinha
Não batas naquela santa
Que tantas vezes tirou / Da boca dela p´ra minha
Dôr igual nunca senti
Quando vi na criancinha / Tão nobre sentir aquele
Com mil beijos prometi
Não bater mais na mãezinha / Chorando abraçado a ele
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