sexta-feira, janeiro 23, 2009

37 anos - O Ano da Busca - The Quest

Hoje é um dia engraçado, que bem visto não acho graça nenhuma...

Faço hoje 37 anos e pela primeira vez em muito tempo, acordei sozinho, numa casa sozinha, sem ninguém a dar-me os parabéns.
Nos últimos anos o meu dia de aniversário começava sempre com um beijo de bom dia, com as minhas filhas a pularem na cama e uma sensação de preenchimento...
Hoje não... hoje foi uma triste sensação de vazio.

Já recebi montes de mensagens, telefonemas e mails de parabéns mas ainda assim, sinto-me sozinho e deprimido.

Confesso que me sinto outra vez numa fase um bocado negra da minha vida, sinto-me sem rumo, sem destino, sem metas... Não consigo encontrar trabalho, estou afastado das pessoas que amo e está a chover...

Até o meu bioritmo está nas "lonas"...



No entanto, enquanto escrevia este post, o sol começou a aparecer por entre as nuvens e pode ser que seja um bom sinal de que melhores dias virão... mas entretanto, vou seguindo esta minha missão de me voltar a encontrar... e hei-de lá chegar... tenho a certeza que vou voltar a estar feliz...
Enquanto não chega, deixo-vos com uma música de Bryn Christopher, que se chama exactamente "The Quest"... é como me tenho sentido... à procura...

Podem ouvir também, se quiserem, no player que está no topo do blog. Para quem costuma ver a série da Fox "Grey's Anatomy" (Anatomia de Grey), deve reconhecer esta música pois é a música do fecho da última temporada.


The Quest

I’m leaving tonight
Going somewhere deep inside my mind
I close my eyes slowly
Flowin’ away slowly
But I know I’ll be alright
It’s coming stronger to me
And I know someone is out there
Lead the way, Lead the way
Show me the answers I need to know

What I’m gonna live for
What I’m gonna die for
Who you gonna fight for
I can’t answer that

All my love it is
It is all my love
All my life it is
I know it is a life to live lately
From above I hear
I hear the sound of them sinkin’
I feel numb, I’m alive
I know I’m getting closer

What I’m gonna live for
What I’m gonna die for
Who you gonna fight for
I can’t answer that

My life has had it’s share of troubles
And now I found a place to go
I’ve said goodbye to all my troubles
’cause now I’ve find my place to go

What I’m gonna live for
What I’m gonna die for
Who you gonna fight for
I can’t answer that
Bryn Christopher

domingo, janeiro 18, 2009

José Carlos Ary dos Santos - Estrela da Tarde

Passam hoje 25 anos da morte de um dos mais carismáticos poetas de Abril que com a força das suas palavras transmitia uma força como que reprimida a quem, ainda hoje, ouve ou lê os seus poemas.

José Carlos Ary dos Santos, construiu um conjunto de poemas para muitas canções de Festival da Canção, mas foi a sua mensagem e a forma subliminar como escrevia que a mim me marcou.

Poemas como "O Homem da Cidade" ou "Estrela da Tarde", foram marcos e, não obstante eu quase achar que "desmembrar" poemas destes seja quase um crime, queria deixar-vos uma análise pessoal sobre a fonética do poema "Estrela da Tarde".

A forma como está escrito e a maneira como Ary dos Santos manobra as palavras em função das situações, é simplesmente delicioso.

Fica aqui o poema na íntegra, leiam-no despreocupadamente e depois leiam a minha análise:


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!



Análise:

Se repararem, a primeira parte do poema fala-nos da "Tarde", que reflecte o prelúdio do final, que pode ser da vida ou de um objectivo a alcançar. Essa Tarde transmite-nos a força, a ansiedade, a fúria e a vontade de "ter" ou de "viver", e para realçar esse sentimento o poeta utiliza a forma fonética dos érres, como que um gritar oprimido, uma ansiedade incontrolável, o desejo sem ponderáveis. Vou apenas extrair as palavras-chave para poderem constatar:

Tarde, esperava, tardavas, entardecia, tarde, tardando, mordia, tardia, tardámos, ardendo, morria, tarde, para haver.

Reflecte assim a "Tarde" ansiosa que antecede a "Noite" mais tranquila, o atingir dos objectivos, o adquirir, o obter, o chegar...

O poema tem uma passagem anterior à "Noite" que é a "Estrela da Tarde", aquela que chega quando ainda não é noite, no lusco fusco, o ponto de viragem. O Poeta faz neste ponto a passagem da "Tarde" para a "Noite", dos sons érre para os sons ésse.

Amor, tarde, corpo, guarde - érres

Certeza, Se tu és, se és, tristeza - ésses

Depois, na segunda parte do poema, vem a "Noite" que corresponde ao atingir do objectivo que vai terminar com a ansiedade, e com ele vem a calma, a tranquilidade e o descanso. Para esse efeito o Poeta utiliza desta vez a fonética mais suave dos sons ésses, como que um acalmar da fúria, um sussurro. Vou apenas extrair as palavras-chave para poderem avaliar:

Todas, noites, adormeceram, nocturnos, silêncios, aromas, beijos, encheram, nossos, dois, corpos, cansados, adormeceram, estrada, festa, fizeram, noites, só, nos, aconteceram, todas, precederam, mais, daqueles

No final desta segunda parte, o Poeta retoma a ansiedade com a perspectiva do abandono e o voltar da ansiedade, com um encadear do som ésse e com uma nova e única volta ao som érre, como é possível de ver nas duas últimas passagens, terminando a "Noite" de ésses com um forte érre de "morreram":

Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

E para o final, deixa o clímax da confusão dos sentimentos com a fúria da ausência numa outra "Tarde" que antecederá a calma e a suavidade de uma nova "Noite", misturada de forma sublime. Eis aqui primeiro os érres da "Tarde":

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto

Para iniciar o final, volta novamente os ésses de uma outra "Noite"

Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

E a última frase do poema, a chave de ouro, é o mesclar dos sons, culminando o clímax com uma esperança de voltar a "ter", sabendo no entanto que terá que voltar a passar pelo mesmo caminho, "Tarde", "Estrela da Tarde" e "Noite":


Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Esta é a minha análise "cientifica" deste magnifico poema que vos deixo o conselho de relerem agora o poema novamente, para que possam apurar o que refiro nesta minha análise.

Leia-no captando sobretudo a beleza latente nas sua palavras e nos sentidos que o poeta terá querido dar aos escrever, incorporando com os nossos próprios sentimentos e interpretações. Essa é a verdadeira essência da poesia.

Cabe-me apenas concluír dizendo que o que aqui escrevi é a minha análise e é mesmo só minha e muito própria, pois pelo menos nunca ouvi ou li nada neste sentido... Nem sequer sei, ou virei a saber, se esta era mesmo a idéia do poeta ao escrever este poema ou se a caneta o "guiou" neste caminho... mas quando falamos de Ary dos Santos, há que pensar que nada era feito ao acaso... e são muitas coincidências...

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Moça...

Mais uma música para o meu novo album a sair brevemente (talvez nunca, mas nunca se sabe...)

Esta é com sotaque brasileiro e ainda não sei bem qual o ritmo (bossa nova ou balada lenta), mas deve ser lido com pronúncia do Brasil... :)



Moça
Moça, de sorriso aberto
que eu queria mais perto,
para meu coração, se juntar com o seu
Moça que passa dançando,
Que eu fico pensando que um dia me dê o que é seu

Moça, de vestido alegre
Como é que consegue
Me levar ao céu, só por existir
Moça, me diga p'ra onde
'cê pega esse bonde e me deixa sozinho sem ti

Moça, como é que é você?
Se eu queria viver
consigo a mais bela história de amor
Moça, que hei-de eu fazer?
pra que repare em mim e me ajude a curar esta dor...

Moça, de corpo bonito
que nem acredito
que o seu olhar se encontrou com o meu.
Moça, que passa brilhando
e eu fico pensando que um dia lhe dou o que é meu.

Letra e Música - AJ (Jan 2009)

terça-feira, janeiro 06, 2009

Fotos - Fonte da Telha

Bem, hoje apanhei mais um dia fantástico na Fonte da Telha...

Ficam mais uma fotos para se deliciarem... e fazia um frio de "rachar"...















domingo, janeiro 04, 2009

Será?

Há muita gente que não gosta do Pedro Abrunhosa...
Uns porque dizem que não canta nada;
outros porque dizem que é um vaidoso pretencioso e que não canta nada;
outros porque dizem que é um gajo do Porto e que não canta nada
e outros ainda dizem que não gostam dele porque... não canta nada!! pronto!!

Eu pelo contrário, gosto de Pedro Abrunhosa, apesar de achar que ele de facto não canta nada...
No entanto, acredito que as músicas, e sobretudo os poemas que ele canta, só fazem sentido, porque são cantados por ele... se fossem pelos Anjos, ou pelo Paulo Gonzo, ou pela Mariza, não faziam qualquer sentido...

Outro exemplo do que acabo de vos dizer são os Xutos & Pontapés: por exemplo aquela música do filme "Tentação":

"O nosso amor, de sempre/Brilhará p'ra sempre/Ai meu amor/o que eu já chorei por ti/mas sempre/p'ra sempre, vou gostar de ti..."

Zé Cabra, esse portento da música nacional, recusou-se a gravar este tema porque o achava "sem qualquer sentido e que não se encaixava dentro do género músical que ele representa...", comentou o cantor. Acredito que se ele gravasse este tema, toda a malta gozava com o homem porque as músicas dele não tinham conteúdo nem qualquer sentido...

Porém, cantadas (mas sobretudo tocadas...) pelo Xutos, a coisa soa bem e já são uma "granda malha"... e porquê? Porque há músicas (letras e/ou músicas) que "são" de cada banda pela forma como as executam... e é por isso que eu gosto de ouvir Pedro Abrunhosa.

E hoje, estava eu nas minhas tarefas domésticas, quando resolvi, para aliviar a pressão, pôr uma musiquinha e escolhi da minha playlist, Pedro Abrunhosa. E às páginas tantas toca uma música que eu sempre gostei especialmente, que é o tema "Será", que quer pela sua energia musical como que contida (parece que está prestes a "explodir" mas nunca "explode"), quer pelo magnífico poema, que encaixa deliciosamente bem na (minha) ideia de boa música...

E se há alturas da nossa vida que parece que há músicas feitas a pensar em nós... gaita, esta música e esta letra são e-x-a-c-t-a-m-e-n-t-e o que sinto neste momento... confesso que é arrepiante...

E não obstante ser um "musiqueta" de dois acordes que, aliás, até são três: Ré menor, Ré sus e Sol Menor, mas como o Ré sus é um acorde "suspendido" e de passagem, confesso que nem conto com ele... (nota de "músicólogo" da treta...), criou-se aqui um trinómio fabuloso: a letra, a música e o executante. Tirem então um destes factores ou troquem-no por outro e, por muito boa que seja a letra, a música ou o executante, todo efeito se perde... é assim que se nascem os êxito...

Deixo-vos a seguir a letra e podem ouvir a música no player no topo deste blog (basta clicarem nas setas para a esquerda ou direita até localizarem o tema...)

"Será"

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou estrelas caíram e qualquer sorte é benvinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.
Será que sabes que hoje é domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.

Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da côr do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim
não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.

Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será...

Letra e Música - Pedro Abrunhosa