sexta-feira, junho 13, 2008

A Minha Grande Aventura Velocipédica...

Pois é caros amigos,

este vosso amigo Moinantes vai cumprir mais uma etapa importante da sua vida.

Depois de um mês em Luanda, resolvi fazer mais uma aventura, esta agora em território nacional, mas que vai exigir muito de mim, sobretudo fisicamente.

Ora cá vai:

O Moinantes tem o prazer de anunciar aos seus reduzidíssimos leitores que, com pré-agendamento para o próximo dia 26 de Junho de 2008, pelas 7:00 da manhã, que vou iniciar uma viagem que me levará desde Brejos de Azeitão, em Setúbal até Fátima, em Ourém... mas de bicicleta...

...

Depois deste choque inicial que deverão ter sentido, e antes de promenorizar este assunto, cabe-me dizer apenas três pequenos Não's e um Sim:

- Não, não é ir a casa da Fátima, na Charneca da Caparica... é mesmo a de Ourém, Santarém... Aquela Fátima que tem um santuário e que apareceu brilhando a 13 de Maio aos três pastorinhos;
- Não, não é para pagar nenhuma promessa.
- Não, ainda não se acabou o dinheiro e mesmo a preços proibitivos, ainda possa abastecer o meu carro com gasóleo.
- Sim, vou de bicicleta porque quero ir!!!

Esta minha viagem foi pensada em finais do ano passado, pouco tempo depois de ficar desempregado e achei que, em função desse meu estado de (des)graça, teria algum tempo e disponibilidade de fazer uma coisa deste género, que requer sem dúvida algum tempo e disponibilidade.

Porquê Fátima? Muito simples... é dos destinos que mais me agradam em Portugal... desde miúdo, quando viajava com os meus pais, ficávamos sempre dois ou três dias em Fátima e lembro-me sempre da paz e tranquilidade que, mesmo miúdo com 6 ou 7 anitos, sentia ao ouvir os sinos ou o silêncio respeitoso que se fazia sentir no santuário. E sinto que preciso de conseguir alguma tranquilidade interior e que Fátima é mesmo daqueles locais que me trazem uma sensação de tranquilidade...

Desta forma, não sendo nenhuma promessa, é uma espécie de prova de vida e o completar de uma tarefa que me sinto destinado, uma espécie de busca pelo meu equilbrio interior...

Moral da história:

Quem tem dinheiro e pode, faz o chamado "ano sabático" e vai para o Tibete, para um mosteiro budista procurar o Nirvana...
... quem não tem dinheiro, resta-lhe esperar ser despedido e vai dois dias a Fátima... e de bicicleta!!!


Agora outra vez a sério, esta é daquelas coisas que sempre sonhei fazer e que agora dá... por isso... vou e pronto!

~

Para quem me conhece à mais tempo, nomeadamente da minha idade de pré-adolescência e adolescência, deve lembrar-se bem das minhas loucas viagens de bicicleta, com dezenas de kilómetros por dia, saindo de Mem-Martins e com destinos que, por só terem a duração de 1 dia, limitavam o raio de acção da viagem a ida e volta. Ainda assim, muito amiúdes foram os passeios, como por exemplo:

- Mem-Martins - Cascais ou Estoril ou Parede (com base quase diária em tempo de férias para ir à praia)
- Mem-Martins - Cabo da Roca (aos domingos, ver as motos...)
- Mem-Martins - Praia das Maçãs ou Praia Grande (mais praia... para lá sempre a descer, mas na volta, uff!!)
- Mem-Martins - Autódromo do Estoril (para ver treinos da F1... inesqueciveis esses dias...)

Por menos vezes, fiz algumas deslocações à Costa da Caparica, onde no Verão a minha namorada de então passava as férias e que nessas alturas, pela distância e logística envolvidas (o barco p.ex.), ficava de um dia para o outro (normalmente o fds...) Fiz também algumas viagens de Lisboa para Mem-Martins, nomeadamente quando trabalhava em Lisboa e utilizava a viatura da empresa para me deslocar. Quando entrava de férias, deixava a viatura na empresa e voltava para casa de bicicleta, ao final do dia (desde Cabo Ruivo a Mem-Martins)...

Como veêm, bicicleta para mim não tem muitos segredos e tenho muitas centenas de kilómetros nas perninhas... se bem que estamos a falar de quando tinha 16, 17, 18 anos... mas vou se calhar ainda andar para trás no tempo mais uns 100 anos para situar melhor esta minha paixão por bicicletas...

O meu avô materno, de nome Artur Dias Maia, nascdo em 1898, em São João de Loure, Aveiro, foi ciclista "profissional" nos anos 20 e 30 do século passado. Digo "Profissional" pois em 1920 o mais profissional que se podia ser era ter um patrão que deixava que ele (o meu avô) faltasse ao emprego por alguns dias por ano para realizar algumas provas...
Como ciclista participou em diversas Voltas à Portugal, entre elas a 1ª Volta a Portugal em Bicicleta, e mais tarde pertenceu à equipa do Sport Lisboa e Benfica onde então figurava o grande José Maria Nicolau, e quem o meu avô o ajudou a vencer algumas voltas a Portugal. Participou em mais de 15 clássicas Porto-Lisboa tendo vencido, salvo erro 3... e mais de não sei quantas provas do então muito popular calendário velocipédico nacional.
Tenho em casa dos meus pais um quadro com umas dezenas de medalhas do meu avô dessa época. Nessa época, não haviam estrada de alcatrão lisinhas, nem carros de assistência, nem EPO ou outros dopings... os ciclistas partiam e orientavam-se estrada fora, em caminhos de terra batida por kilómetros e kilómetros, por vezes até mais do que um dia...

De todas as medalhas, segundo o que me lembro de ele me dizer, a que para ele teve mais signficado foi-lhe atribuída por uma corporação de Bombeiros de uma qualquer povoação à beira mar (confesso que já não me lembro, mas a medalha deverá dizer... creio que para os lados de Peniche...), porque durante uma prova em que ele pedalava sozinho numa estrada à beira mar, viu uma criada a pedir socorro pois uma menina tinha caído ao mar e não estava a conseguir voltar para terra. O meu avô, pessoa de grande porte e enrijecido pelos muitos anos de bicicleta, saltou da bicicleta e atirou-se ao mar, conseguindo trazer a criança a salvo.
Terminado o salvamento, montou-se na bicicleta e foi à vida dele, acabar a prova.
Só mais tarde, os pais da criança, que eram pessoas abastadas e de grande importância na tal terra, procuram saber quem tinha sido o tal ciclista que lhe salvou a filha e fizeram-lhe uma homenagem, com os bombeiros a oferecerem-lhe a tal medalha...

Havia inclusivé um livro com recortes de jornais do meu avô (que para imensa pena ter-se á perdido para sempre com as partilhas e mudanças de casa após a morte dos meus avós...) que falava nesta incrivel história...Parece uma daquelas histórias da carochinha, mas é mesmo verdadeira...

Agora que está explicada e talvez justificada esta minha paixão pelas bicicletas, resta-me agora preparar-me fisica e psicologicamente, uma vez que a minha bicicleta já está no ponto (cones das rodas com massa nova, carretos oleados, pneus de estrada montados, carreto de estrada montado...tudo apertado e verificado...).

Assim, vou deixando aqui algumas novidades na próxima semana sobre esta minha viagem maluca e espero que vos agrade mais uma moinice deste vosso imbecil amigo...

No final do blog (puxem tudo para baixo até ao fundo...), está o itenerário detalhado...

Este itenerário foi calculado com base em viagems por estradas secundárias e nacionais, velocidade média de 15 kms/h (ritmo de passeio, eu sei...) e com descanso de 15 minutos a cada 1h30m de viagem.

A questão principal tem a ver com o meu endurance...

Será que no primeiro dia fico em Benavente (93 kms), na Golegã (134 kms) ou se chego até Torres Novas (146 Kms)?

Se conseguir chegar a Torres Novas no final primeiro dia (o meu objectivo inicial), então na sexta-feira posso "atacar" a serra com apena 46 Kms para chegar ao destino e aproveitar o resto do dia para retemperar forças... Bom, a ver vamos de acordo com os treinos destas duas semanas que ainda faltam...


Até breve, malta

Moinantes abraços velocipédicos...


Nota Final:

Claro que, como é óbvio, se alguém me quiser acompanhar nesta maluquice, é só avisar e trazer a bicicleta, ok?

5 comentários:

blog disse...

Não quero acompanhá-lo na sua "maluquice".

Apenas pretendia que me facultasse, caso fosse possível, uma foto do seu avô e outros dados biográficos para colocar uma mensagem sobre o seu avô em blogdealbergaria@blogspot.com (os únicos que dados que possuo são os que constam desta mensagem).

Também havia um corredor Joaquim Dias Maia (e uns irmãos Dias Maia). Haverá alguma ligação com o seu avô.

o meu endereço de e-mail é blog.3850@yahoo.com

Obrigado,
Óscar

blog disse...

queria dizer "maluquice" :)

blog disse...

O seu tio-avô Joaquim Dias Maia tem 3 netos, um dos quais vai-nos enviar algumas informações

Aproveitamos para lhe comunicar que encontrámos umas imagens do seu tio-avô que estão disponíveis no nosso blog "Imagens de Albergaria"

http://imagensdealbergaria.blogspot.com/2008/04/dias-maia-abril-de-1938.html

blog disse...

Errata:

Aproveitamos para lhe comunicar que encontrámos umas imagens do seu avô que estão disponíveis no nosso blog "Imagens de Albergaria"

http://imagensdealbergaria.blogspot.com/2008/04/dias-maia-abril-de-1938.html

Blogger disse...

O Jornal de Albergaria de 25-5-2010 fala dos Irmãos Dias Maia