domingo, fevereiro 11, 2007

A Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez




Hoje foi o dia do referendo da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) e o "Sim" ganhou...

Ora, considerando esta medida a maior parvoíce dos últimos dois anos de vida deste blog, sinto a necessidade de atirar cá para fora o que me vai na alma...

Durante a minha vida, tive a infelicidade de conhecer uma quantidade considerável de médicos - e digo "infelicidade" apenas porque apenas tive com eles uma relação de médico-paciente (meu ou de meus familiares...), o que significa que, alguém esteve doente...

No entanto, tive também a enorme felicidade de conhecer várias pessoas que, na medicina, partilham entre elas uma vocação. Sim, porque ser médico ou enfermeiro não é uma profissão ou um emprego - é uma vocação, uma tarefa de vida... como um professor, como um policia e como tantas outras vocações que fazem com que as pessoas que efectivamente as praticam na sua pura essência, me deixem orgulhoso da humanidade...

E que são pessoas como eu e vocês, que riem que choram e que sofrem quando as suas capacidades não lhes permitem cumprir a sua vocação... Um verdadeiro professor sofre quando chumba um aluno, um bom policia frusutra-se quando não consegue evitar um homicidio, um dedicado médico angustia-se se perde um paciente...


Em tempos, no liceu, achei que poderia seguir Medicina, pois achava que era o meu caminho, ajudar os necessitados, os doentes, salvar o mundo, aquelas coisas de adolescência... Mas cedo desisti pois soube de imediato que não me conseguiria entregar de corpo e alma a essa tarefa e que por isso nunca seria uma bom médico... simplesmente soube que não era a minha vocação...
E em boa hora o fiz pois se hoje fosse médico, teria que objectar em consciência o que menos de metade da população referendou hoje: A legalização do aborto a pedido da mulher até às 10 semanas de gravidez. e senão vejam uma transcrição do juramento de Hipócrates ( o juramento que todos os médicos fazem...)...

"Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.
A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda.
Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
(...)Conservarei imaculada minha vida e minha arte. (...) Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Não obstante já a medicina moderna permitir que se pratiquem abortos medicamente assistidos sempre que se verifique uma comprovada malformação congénita do feto, o que me indigna é o facto de, com o que hoje se referendou e se aprovou, o aborto poder ser feito através de um simples pedido da mulher (ou do homem, desde que o consentimento da mulher grávida, obviamente...)

Para concluír esta minha tirada e já que hoje se fez tanta estupidez e se disse tanta parvoíce, proponho também eu uma alteração para se referendar a curto prazo... a minha proposta é a seguinte: A despenalização voluntária do homicidio e voltarmos ao tempo dos Cowboys.

Senão vejam:

Supondo que vem um um tipo qualquer ter comigo, numa discussão de trânsito por exemplo, e por qualquer razão dá-me uma sova ou tenta-me matar.

Isso não está certo, né? O que é que eu faço então?
Simples...

Se a minha proposta for para a frente, eu vou à policia e digo:

- "Ah e tal, aquele tipo ali sovou-me e tentou-me matar e portanto quero que vocês tratem do assunto..." - e o policia vai ter com o fulano e diz:
- "Olhe sabe, de acordo com a nova lei vamos ter que lhe limpar o sebo..." - e trás, trás... dois balázios nas ventas e está o caso arrumado...


...


Não pode ser assim pois não? Os policias não servem para estas coisas, pois não?

Pois é... Os médicos também não são remédio para "pinadas" mal calculadas ou preservativos de fraca qualidade...

Com o dinheiro que se gastou com esta palhaçada do referendo, devia-se isso sim ter aplicado em melhorar as condições de adopção para tantos casais que querem ter filhos e não podem... Deve pensar o governo que com esta nova lei vai resolver os problemas dos centros de acolhimento de crianças sobrelotados...

Mas infelizmente nestes casos já não vejo os neoliberais de esquerda com os seus tiques pseudo-intelectuais ou as femininistas caducas a defenderem essas medidas de acção, não é?

Abortem, sim... e se possivel com efeitos retroactivos de algumas dezenas de anos para se poder interromper alguns "abortos governativos" que temos na nossa praça...

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