sábado, novembro 26, 2011

Leonel . (cap 1)

"Leonel" é uma história comovente de um pombo-correio que sofre de vertigens e que é constantemente perseguido pelos seu colegas e chefes.
A viver num pombal alugado em Chelas, Leonel é igualmente assediado pela sua ex-pomba que não só lhe leva todo o milho que ganha no final do mês como se enrolou com uma rola pensando tratar-se de uma pomba albina.
Um relato dramático relatado na primeira pessoa e que aborda temas importantes da nossa sociedade actual, como por exemplo... hum... hã... o coiso!



"Leonel"


Capitulo 1

Uhu!
O Verão estava a terminar e o vento fresco de final de tarde soprava-me nas penas do cú, causando-me um ligeiro arrepio nas asas. “Mau!! Paneleirices ou quê?”.
Larguei uma cagadela, pelo sim pelo não...
“Deve estar a mudar o tempo” - pensei - “tou aqui com uma puta de uma pontada numa pata que até a anilha me está a apertar”…

Uhu!

Ah…A minha anilha… ainda me lembro quando a apertaram com o alicate de apertar anilhas. Era jovem, tinha sonhos…Sonhava ser um super-pombo… ou um pombo de cinema. Fazer publicidade, comer ameixas e sementes de linhaça… e ter um pombal duplex em Camarate, cheio de pombas albinas.

Uhu! Uhu!

- CHIÇA!! Cala-te com essa merda do Uhu! O que é, mulher??? – gritei eu para a minha companheira, que estava na manjedoura mais abaixo…


UI!!… uma tontura. Estas tonturas! Malditas tonturas!!!!


- Vem jantar que o milho está na mesa…


Milho, milho e milho…sempre a mesma treta de milho transgénico… ninguém me tira da cabeça que as tonturas são da merda do milho transgénico…


- E não olhes pra baixo, Leo… Sabes bem que ficas mal disposto…
- Tens medo que vomite, é?!? Mas quando vomitei para ti a primeira vez para fazermos amor não te importaste?!?
- Mas quantas vezes tenho que te dizer que eu sou uma rola, Leo… Nós não gostamos dessas porcarias de pombo de vomitar andes de pinar… nós damos assim umas bicadas de preliminares e pronto… eu só me vomitei porque fique mal disposta…


Uma Rola… bah! Uma pomba albina, armada em rola…


Encontrei-a uma tarde no jardim do Principe Real, toda janota. Cheguei-me a ela com o meu andar à Jardel e ela correspondeu com um Uhu!.
“Ai é…” pensei eu  “ então toma lá” e pumbas!! Vomitei-lhe para a ventas!
Ela pareceu-me meio espantada inicialmente, mas como se vomitou toda de volta… trufas… saltei-lhe para cima e pronto. Era minha!!… Uma pomba albina, como sempre sonhei…


E ela continua a dizer que é uma rola… bah!


Desci para a manjedoura, agarrado ao corrimão e sem olhar para baixo. Sentei-me à manjedoura e não sei porquê, não fiquei surpreendido:
- Outra vez milho?
- Queres o quê? Ameixas? Se não fosse a mula da tua ex-pomba que te esmifra o salário todo…
- Esta merda deste milho transgénico faz MAL, percebes? MAL!! Outro dia caguei um grão inteirinho!! Ainda me dói o cú… Achas isso normal!?!
- Olha… Arranja outro trabalho. Larga essa merda dos correios…
- e faço o quê, hã? Vou para a Avenida da Liberdade cagar nos humanos?
- O Herculano está lá e ganha mais que tu…
- O Herculano, o Herculano… não há conversa de milho que não acabe na merda do Herculano…
- Não fales assim do teu irmão!! Ele é que nos tem ajudado. Ou já te esqueceste quando estiveste de baixa com a asa partida. Quem é que punha o milho na manjedoura?
- Sabes bem que não posso ir para a Avenida… um gajo passa o dia nos beirais e sabes bem como é a minha pontaria quando tenho as… as tonturas…e ali ganha-se à comissão… se não se acerta não se ganha.
- Mas o Herculano…
- Cala-te com a merda do Herculano e deixa-me comer!!… olha…vai para dentro e não me chateies!!
- És um chato, é o que és… - resmungou ela enquanto arrastava o seu cú branco para a casota.


O Herculano… Sempre o Herculano… Só porque tem um pombal em Camarate e trabalha na Avenida. Bah!


“Um dia… um dia eu vou-lhes mostrar como é”, pensava eu enquanto bicava um grão de milho. Resolvi mastigar melhor assim que me repelou o cú por causa do sacana do grão inteiro…

Uhu!